Defenestrado da mais alta torre
Profanei com minhas espantosas
Formas, a crueza aguda do oceano
Ausente e dividido, à vaga imagem
de Perséfone com sua coroa de narcisos:
Rezei para que não me permitisse engolir
As águas do Lete, para que eu viva
No sal das lembranças a potência
De aceitar a incerteza e me lançar
Sem passado, sem futuro, apenas
Presente, para que enfrentasse
Os homens com bisturis e anestésicos
Rezei para que sua amarga versão Ceifeira,
Com manto negro e coroa de Papoulas
Me poupasse de minha própria escuridão!
Sim, eu vomitei as águas do Lete
Pois a solidão da lembrança me constitui
E uma vez talhado ao meio, eu canto
O que Sibila alguma jamais ousou cantar:
Os instantes que não vivi junto ao mar;
O instante em que, banido, me encontrei!
Bruno Borin Boccia
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