Até hoje naveguei neste corpo sensível e modesto
Como um canal de meus ideais vagos e lestos
Tenho cortejado a vida como um feito fascinante:
Nunca me preocupei com a anatomia lancinante
Que se resguardava silente em meu interior:
Nas vagas dormências do meu íntimo gradeado
A válvula cardíaca amainava sua função maior!
Demanda a troca; os médicos e seus palavreados...
Desde então, em meu leito, negras aves de rapina
Sobrevoam-me mostrando suas garras assassinas
Dilacerando em vastos gemidos as minhas flores
Tornando a minha amada primavera em dores!
Me sentindo mergulhado na maníaca hediondez
Numa trama que não é minha, abandonado
Ando sentindo o coração deveras fustigado
Trôpego de tantos ais e de tamanha languidez
Já não sei mais se almejo pressagos ou flagelos
Dissociado das essências da escrita e da beleza,
Vago no neblinamento confuso dos diversos infernos
Diluído entre o quase operar e o anelo da brabeza...
Bruno Borin Boccia
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