Saltando direto do deserto de betume,
O oceano de luto deposita fantasmagorias
Em meus olhos, como se a ausência de lume
Atraísse às flores atrozes, as decompostas árias
Da multidão em desfoque, fazendo desfilar,
Na possessão das aristocracias vocabulares,
Mnemósine, tecendo-me os rostos a vagar
Nos corredores arredios, aos milhares,
Em um mundo eternamente carbonizado,
Perto dos velhos refúgios e das velhas flamas,
Fazendo ouvir seu crepitar dissimulado
Ao degustarem as vozes restauradas
Das harmonias que compõem as inspirações,
E as experiências inéditas, com esplendores
Coloridos demais para estas multidões,
Que se espargem cinzas diante dos fragores.
Sem altar, a Memória, opulenta conspira
Sua ornamentação nas seivas do intelecto.
Tragando em claridades impassíveis o aspecto
Dos ardores da culpa que perfaz a Pira,
Tão sólida quanto Sua flava Coroa.
Embora, a inflexão da finitude
Se ajuste ao meus ritmos,
Já não me faz vítima dos algoritmos
Caçadores da eternidade.
Bruno Borin
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