Sou um recorte tirado
Das páginas secretas da vida
Rascunho revirado, remontado
Composto de letras perdidas.
Rasguei uma nuvem,
esqueci que existo.
Diante do imprevisto
e da poesia não vem.
Com tanta cor escrita,
perdi a minha, nesta infinidade
E esse prisma que invade,
não me quer, não me acredita.
Fustigado, entre os entulhos
de mim mesmo, cheio de marulhos.
Não sei o que pretendo encontrar
Se o corpo que não posso saciar,
Ou a alma que tento alimentar.
O que fazer com a paixão,
Escandida com admoestação?
Um amuleto antigo a se corromper
Ou um punhado de versos
Que jamais hão de resumi-la?
Mesmo com tantos esmos
Talvez não consiga abriga-la.
Muito perdi sem ter jogado,
Colho do olvido os suspiros
Do luar solitário, sem ter amado,
Meus gestos não compreendidos.
É amargo ver as moções desperdiçadas
Em um cotidiano sem colheitas.
Sempre, em sensações remendadas,
Promessas caem, um outono à espreita.
Vida e memória são da mesma sebe
Germinadas; daquilo que se vive
Pouco realmente se concebe
Sem pormenores, inclusive!
Gastei meus discos solares
Querendo apenas viver,
Mas, dos variegados ares
Pude tão pouco saber...
Bruno Borin