terça-feira, 24 de junho de 2014

Visão


Os anjos ostentam grinaldas d'oiro
Coroando a brevidade das flores 
Frente ao ermo e seus langores
Brotando em galhos afoitos

Firmando a certeza das primaveras
Nas claridades vindouras das próximas eras
Fenecendo as ilusões dos fogaréus íntimos
E com isto os vultos dos saudosos cimos

Escrava do ritmo, a brevidade é sentença
Determinada a dar espaço a novas cadências
Ignorando sempre as parcas reminiscências

Fluindo sem solenidades, sem diferença
Com memórias ou vidas que vêm e vão
– Foi assim escrito sem secreta pretensão.

By: Bruno

Sentimento

Entre viver e ser, a vida passa
sem que a conheçamos
tempo de entender é todo o tempo
mas se não houver o tempo de sentir
a vida passa sem que sonhemos
e sem sonhar ou sentir
a vida tão bem entendida
não passa de um rumor escondido
em emaranhados de espinhos

se não sente a treva, a dor;
o fado não se canta,
a flama não se acende
ler é o inverno do pensamento
jornada solitária no reino
das perspectivas, dos espelhos
Bragi a ninguém desampara
e alma vista por dentro
não é o que se sente
é o que se tem sem ser
é o que se é sem carregar

ninguém sabe, mas se traduz
em palavras, em primaveras
flores como as do campo
ou canto ao vento
que só tirando de si
se reconhece que se sentiu.

By: Bruno

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Como estarão os Gerânios?


Como estarão os Gerânios
na viva distorção da memória;
Do passado, cheio de inícios
E de uma fantasiosa glória?

Será que a crepuscular Verdade 
Os atingiu, alguma sórdida vez?
Monarca da crua realidade
Pena e cruz se misturam em palidez

Fotossintetizando a culpa entre as folhas
No lamacento jardim, maior que o mundo
Dono do escapismo, belo poço-sem-fundo
Onde descia a vida do horizonte da escolha

E nada se restringia ao que é, consignatários
De suas fecundações, vida e morte permutam
Concepções imprevistas e assim se costuram
Os lapsos de tempo entre estes arrematários

Que luzem despercebidos, anagramas
Compostos, com os verbos da vida
E os símbolos do amanhã perseguido.
Incautas são as introspecções; em panoramas

Transfigurados por nossos olhares velados
Versando sobre esta ignota melodia 
Que não passa do vislumbre de uma maresia:
Insignificantes marés de verdades fechadas.

No brotar de uns Gerânios quaisquer
Vistos de uma janela, nas passagens
Entre um céu imane, sem fundo, a esvaecer
Na memória de tantas vistas paisagens...  

Como estarão estes Gerânios
na pulsante distorção da poesia;
Floridos, cheios de inícios
E de uma fantasiosa teoria?

By: Bruno

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Sombras


Sombras, duplicatas
Existências em segundo plano
Dos Eus piratas

A comandar o navio 
Da vida, alternando o meridiano
Deste mar vadio

Que dança e se lança
Aos desafios do cotidiano
E se desfaz em lembrança

Rito antigo, fogueira pagã
Do verso, da prosa, da rosa
Que brota invita, na vida afã

Se der em nada, do abismo
Os deuses se entreolham
E se livram do leviano rabisco

E se mesmo no parco passo
Retorno houver, Infausto caminho
Brotará do provimento lasso

Das inspirações, numes entrepostos
De intervenções incógnitas
Desses deuses ignominiosamente depostos

As vidas em razão das sombras,
Navegam, perpassam pórticos reclusos
Mas infecundas não são, alfombras

Lavradas pelos sentires, multíssonos
- Oiça tu, bem, qual deves seguir 
E apaziguarás o sofrer horríssono!

By: Bruno

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Cântico


Minha voz, às vezes desatina
Nos arcabouços da linguagem
Procurando, na vibração perdida
O brotamento das novas ramagens

Singulares pétalas do sentir, 
A lapidar nova transfiguração
Em pequenas odes a surgir,
Do orvalho escasso da inspiração

Sussurros do vento me contam
Histórias de caminhos ocultos
Onde não somente se cadenciam
Ritmos e melodias, sem os tumultos

Das palavras dissonantes e aviltadas
Mas, destinos, sentimentos, no tecido
Incorpóreo e sublime do poema escrito
E, aquelas desarmônicas, são sepultadas

Nas lembranças das coisas faladas
Escorrendo do psiquismo a contemplar
A concretude das coisas vivenciadas
Na oralidade flutuante a compressar

Estilhaçada, mutando em ausências
Inconclusas porém livres, açucenas
Expressando no voo, as paixões 
Das épocas em eternas transições

Por vezes ecos, a palavra suja
Minha voz com sua inquietude
E o verbo a ilumina e me sobrepuja
Demonstrando a mim, minha solitude

Lúrida, cheia de paradigmas 
Os quais me conluiem 
Para fora de mim e excluem
Em gritos, meus enigmas!

By: Bruno