I
Como uma nuvem rasgada
Lembro daquilo que escrevi
Ao estar de alma atordoada
Pelas intensas coisas que vivi
Intensas? Podes imaginar
Verdades, invenções, alterações
Só me lembro de tantos corações
Meus, teus, vossos a navegar
Diante do que as aparências ofertam
Flores em calçadas, sorrisos em metrôs
Auras limpas pela fé que todos carregam
Contratos com o ideal que emanam
Sonhos estranhos em inacessíveis platôs
Admirações embriagadoras que dilaceram...
II
E lançam o chão que cai em mim, nostálgico
Comparando a coragem de agora
Com os inúmeros medos de outrora
Concentrando o caminho em um traço trágico
Que rabisco com o pranto que de mim jorra
Escondido do meu alento, da minha saudade
Misturado ao deleite e morosidade,
Andando ao gosto do humor, que aflora
Enaltecendo a caminhada;
Talvez pequenas presepadas,
No oceano das volúveis ideias
Quebrantado por fiordes, asas alçadas
Intentam voos, buscando novas moradas
Porém alcançando sempre mesmas falésias...
III
No esgar do momento
Sou vário, me transformo
Sou eu e me transtorno
Flor sem caule, sem alento
Nutrição que rumoreja sopro
Nascedouro do ar, manjedoura
Das coisas comuns, poesia doura
A linguagem comum e sem escopo
Que ocorre no quarto, na sala
No gemido e na fofoca
A criança por mais boboca
Cria poesia quando embala
Refoga-se na alma da época
Do poeta em sua pouca molécula.
IV
Na brancura virgem da folha
A meridional sensação de desassossego
Desampara, na tensão sem fôlego
Da caneta e; o mundo sem dimensão, molha
Átimos de tempos fremem a eternidade
Pulsante das letras, fora da gravidade
O fragor das asas, dos telhados
- Que nenhum Raio seja capturado!
Porque ninguém sabe de que engenho
Nasce a poesia ou a ideia que a inflama
Ou ainda o que entra no poema!
- O gato passando é intertexto, é floema?
O passarinho voando é turbulência, proclama
O clarão na boca da palavra, monograma...
V
E peso de cada palavra, fardo de cada sentir
Cada ato, cada passo, cadafalso
Mentira e verdade somam sem advertir
A invenção da vida na qual me alço
Voando fora da asa, procurando
Na mecanicidade do desabrochar
Flores sem glória que, flutuando
Têm um rumo inexistente a trilhar
Tempo fora do tempo, prestígio
Das plumas morbosas das estrelas
Simbolizando em suas mágicas aquarelas
A verdade escondida do diário martírio
Dos sentimentos humanos: A queda!
Da vida, sua verdadeira moeda.
By: Bruno
Gosto demais de você. Lindos poemas.
ResponderExcluirAna Angélica