Odeio o movimento que desloca as linhas
Desordenando por vezes os silêncios das cenas
Gotejado pelas lágrimas das multidões que acenam
Como as marés que não se comovem com estas ladainhas
Dissolvendo a membrana que envolve a ilusão da sua voz
Eu tento não devorar mais uma vez o torpor deixado
Sem motivo ainda tento desvendar as cores do lume manchado
De cada estrela oculta por este negro estandarte segundos após,
Cada palpitação desta medrosa arritmia, abandonar-me cada vez mais
Ao langor da incuriosidade e do descompasso dos dias baços
As exclamações tornam-se delírios distantes a perder-se de tão artificiais,
Toda vez em que leio nos raios de sol a harmonia do cansaço
Rindo com as vírgulas que brincam felizes tal como passarinhos
Consigo adornar minhas dores com a distração do cotidiano
Derreto o fogo docemente para formar um número palaciano
Até que as flamas sejam apalpáveis e rescendam os burburinhos
E os suspiros doídos dos meus maiores medos, na minha alma,
Aquietados, entretidos pela suavidade crepitante da madeira
À deriva dos transtornos das estações e das sepultadas caveiras
Das memórias já esquecidas que por vezes retornam, por vezes não!
Eu amo a cruzada que as bebidas geladas fazem em nossas gargantas
Tornando acessíveis as cantigas antigas e os versos mais modernos
A mim, a tortura sutil das pequenas alucinações; a elas, uma pureza santa!
Enfim, eu odeio o movimento que desloca as linhas
Porque a eternidade que nós tentamos conquistar
É uma diva estéril cuja simetria é torta como uma igrejinha!
By: Bruno
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