sábado, 26 de maio de 2012
A ironia
Desce do céu uma luz em solene despedida
Quem desce daquele céu opaco?
Que míope luz corrompe tais córneas sonolentas?
A face ardente dos sóis aéreos põe-se a perquerir!
Quem cuja estrela anatematizou o enigma do bem e do mal?
Quem cuja onipotência perdeu a validade e tornou-se nada?
Aquele que ensinou o Don Juanismo conheceu por si próprio
As raízes infames da árvore da ciência e do que tal vegetal se nutre
São negros os olhos, tal como o outono do pensamento
Tão languentes os lábios quanto são sensuais os versos do Bocage
E por fim: intelecto tão desconhecido quanto o panteísmo eslavo!
Nos obrigando a versar sob o tempo impiedoso o conceito de vida
Concluimos que singular é a morte que só surgue quietamente uma vez!
E quem desce do céu em solene despedida?
A eternidade, dia após dia, aborrecida pela ironia!
By: Bruno
quinta-feira, 24 de maio de 2012
sábado, 19 de maio de 2012
Balada Múltipla
Nas imagens corridas
Nas palavras partidas
Na fumaça que nos lacrimeja
E até nos vitrais de igreja
Está talvez a paz, para quem a deseja
Arrancando do olho um cisco
Na contracapa de um disco
Nas vozes dos corais
E nas notícias dos jornais
Estão as recordações sazonais
Nos casais impregnados
- De amor
Nos olhares fustigados
- Do desolador
Desamparo ou da má sorte
Há este silêncio de além
A volúpia das lassidões;
O pousar da mão
Do torpor da redenção
Nos vultos que revivem o passado
Nas orações que evocam a tradição
Mesmo nos rituais que repelem a maldição
Estão os espasmos de esperança fustigados
As lágrimas dos cansados
Os olhares sem vida dos caídos
O azul do grande sonho indeferido
Fazem dos poucos escolhidos, alucinados
E eu... Nunca vi as nuvens sorrirem
Através de um arco íris luminoso
Por entre os ventos ásperos e impiedosos
Eu... Nunca vi as esperas se serzirem...
By: Bruno
domingo, 13 de maio de 2012
Linhas
Odeio o movimento que desloca as linhas
Desordenando por vezes os silêncios das cenas
Gotejado pelas lágrimas das multidões que acenam
Como as marés que não se comovem com estas ladainhas
Dissolvendo a membrana que envolve a ilusão da sua voz
Eu tento não devorar mais uma vez o torpor deixado
Sem motivo ainda tento desvendar as cores do lume manchado
De cada estrela oculta por este negro estandarte segundos após,
Cada palpitação desta medrosa arritmia, abandonar-me cada vez mais
Ao langor da incuriosidade e do descompasso dos dias baços
As exclamações tornam-se delírios distantes a perder-se de tão artificiais,
Toda vez em que leio nos raios de sol a harmonia do cansaço
Rindo com as vírgulas que brincam felizes tal como passarinhos
Consigo adornar minhas dores com a distração do cotidiano
Derreto o fogo docemente para formar um número palaciano
Até que as flamas sejam apalpáveis e rescendam os burburinhos
E os suspiros doídos dos meus maiores medos, na minha alma,
Aquietados, entretidos pela suavidade crepitante da madeira
À deriva dos transtornos das estações e das sepultadas caveiras
Das memórias já esquecidas que por vezes retornam, por vezes não!
Eu amo a cruzada que as bebidas geladas fazem em nossas gargantas
Tornando acessíveis as cantigas antigas e os versos mais modernos
A mim, a tortura sutil das pequenas alucinações; a elas, uma pureza santa!
Enfim, eu odeio o movimento que desloca as linhas
Porque a eternidade que nós tentamos conquistar
É uma diva estéril cuja simetria é torta como uma igrejinha!
By: Bruno
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Excesso de utopias
Mesurando suicidamente, o sol do meu sonho não tem nenhuma diferença do real,
Apesar de ele parecer uma estampa de cartolina num céu abobado de outono
Todavia, esta cartolina é provisória e improviso uma mudança amadora e sem nexo causal
Partindo-me aos pedaços, herméticamente arquejando, por falta de eternidade
Eu me confundo com alguém que mora atrás dos meus olhos
Não idealizar ossaturas floradas é uma inexistência intermitente
Imaginar diálogos dourados de bolor idealizado é um pestanejar
De destino astucioso, independente e imutável, onde posso livre
Navegar tão ébrio e imperativo quanto o sinestésico bateau ivre
Uma existência perene ao meu id despótico e pronto para legisferar
Até ser dissociado por outro e mais vivo jogo de cores e silogismos
Enquanto enlaço meus pensamentos semicerrados à pequenas molduras
Mas mal distinguo o sono do despertar com as hemorragias das ranhuras
Da minha mente fragmentada nas supremas instâncias dos mais eloquentes abismos
Até mesmo quando os fins da finitude se estabelecem absolutos,
Contra o pó das florações ósseas do meu ego ideal, sempre inspirativo
Nem se faz necessária a tentativa de postergar as iluminações altivas
Porque meu misto de aflição e ânsia nervosa, sem nenhum cacho enxuto
De esperança, trata de me colocar na mais prodigiosa escapada, outra alucinação!
By: Bruno
By: Bruno
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