terça-feira, 17 de abril de 2012

As Pinturas Malditas


Quando a fina trama da vida começa a nutrir-se de desgraça
Manuseada delicadamente e enroscada em fios invisíveis e inescapáveis
Estranho exército de gritos desesperados, procurando miserávelmente a graça
Acabam por revestir-se ainda mais em maldições impalpáveis

Transformando-se na tinta ideal para as mais ousadas pinturas
Acompanhados da boa voz dos anjos que caem dos altos céus, laivados
Imergindo no grande mar de telas, compondo as vogais empilhadas
Junto a consoantes demoníacas, que em êxtase abrem-se em imensas diabruras

E segue por séculos o spleen iridescendo-se na matiz das cores profanas
Circulando nas telas dos versos como nobre seiva incandescente
Nem preciso citar o luminoso ódio que por vezes também é resplandescente;
Caim apunhalando Abel, consagra o início destas maldições arcanas!

Quando uma mão espalmada esconde os precipícios, as bordas dos edifícios,
As pontas das facas, o gatilho das armas; os arco-íris esticam-se frágeis;
Quando a outra mão fecha-se à fome, ao terror, alimentando fervorosa, os hospícios
A natureza rutilante e transtornada, complementa esta calamidade com desastres ágeis!

Porém pouco importa quem tripula este mundo, ou qual será a algazarra derradeira
Porque, mesmo que eu trilhe caminhos obscurecidos, tenho tinta suficiente
Dentro do meu âmago em flama, posto que vivo em um inverno surdo e diligente
Não me sinto guiado por este Éden leproso, nem tolamente acredito em puras cerejeiras

Mesmo cansado ou impassível, coletar estas tintas acaba ninando minha alma,
Trazendo dos abismos flores roxas que ao meu corpo, atóxicas, preenchem-me de sentido
Com licores trazidos dos astros esquizofrênicos me embebedo, mesmo com coração partido
É assim, temendo as visões eternais, chorando prantos infernais, que eu componho, com toda calma,
Estas pinturas Malditas!

By: Bruno

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