Deito-me no chão, coluna ereta, joelhos arqueando as pernas como normalmente. Afagando a figura imponente do móvel, vista tão de baixo como uma formiga vê o passarinho a pegá-la com o bico, embriago-me, desta visão de insignificância e morte. Observando doentemente o amarelo da lâmpada, reparo que estou perto da desistência. Eu sou escravo do batismo que não completei. Tentado a destruir toda moralidade, com qualquer coisa que abrevie a vida. Faço pouco em lamentar as dores do mundo enquanto as minhas próprias, aumentam a agonia que me levam aos vermes que me devoram os princípios. O meu sono só é perfeito no ninho infernal das chamas azuis. E então resolvo colocar-me neste par de roupas que, lá fora, me prendem no mundo de telas dos humanos, prosseguir, ver em cada rosto a essência do que eu não tenho, ver ao trotar dos lentos passos o repuxo dos sentimentos que me desprezariam se eu permitisse. Noto que no pousar de cada palavra, no mexer de cada perna, não há sinal aparente de loucura, ou de apenas um sonho. O terror vinha, o normal vinha também. Sinto, neste arco-íris arredio, a sensação da modernidade, sinto também, como se eu fosse uma mancha cinza no colorido deste arrebol.
Por mais que eu invente o alfabeto do vasto vazio, não há cor acessível para determinar que haja um verbo poético, para cada desconsolo que há nesta dor de acordar cansado, sonolento, desanimado. É de fato uma alucinação bem simples, acordar sem vontade de ver qualquer luz, especialmente a do sol, aquele langoroso retardamento que inicia uma vontade intrépida de ver as pessoas, ver o movimento e se agradar com a vida pouco rítmica das pessoas que longe dos pássaros, das árvores, não conseguem se acostumar com a modernidade, precisando ser ajudadas para apertar um patético botão que as deveria ajudar infinitamente.
Por isso eu sinto sede. Sede da minha pequena consolação. O mais próximo passo entre a tímida felicidade que me invade o corpo afogando esta solidão, embora me deixando mais sozinho do que um terreiro queimado para plantio. O ardente general que em seu avião me bombardeia com explosões de sensações que certamente contrariam o tédio descomunal de um cotidiano de dormir e comer. A fraqueza do cérebro não vai interromper esta fatalidade da alegria, que um dia há de acontecer...
By: Bruno; Delírio
Bruno, a cada dia me surpreendo com os seus textos e poemas, e esse não me deixa mentir. Uma escrita intensa que nos faz ler até o fim, sentindo a angustia do personagem (ou sua mesmo). Muito bom.
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