terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Envenenamento

Incontáveis asas avariam o azul cada vez mais negro do céu noturno
Antecipando o encantamento do escuro
Aquecendo o som congelado das alucinações que eu calmamente escuto
Me perdendo entre as intrigas do real e do imaginário soturno

As tateáveis faltas de cores que compõem uma matiz monocromática
Agora, me fazem perceber que é difícil destacar o que é saudável
Do que realmente é articulado e admirável
Então tento recapturar o momento em que perdi a sanidade acrobática

Que reluzia várias ilusões nas folhas que caíam naquele outono falso
Repuxando também as alegrias que só aconteciam embriagadas
Numa primavera também falsa, onde floresciam uns amores que em cadafalsos
Eram completamente sufocados, apenas me restando a escuridão das temporadas

Tropeçando na minha própria respiração
Fecudando uma fértil saudade das sensações velhas
Encruzilho-me no pensar e na falta de reação

E quanto mais eu trago meus goles de veneno
Mais eu sinto os repuxos de um jardim chorando
As voluptosas vontades do mundo terreno.

By: Bruno

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Monólogo Decadente


O silêncio arredio e atormentador
Presente na solidão, na mocidade, em uma casa
Capaz de traduzir cada milímetro de dor
Porém igualmente capaz de colocar debaixo d'asa
O maior dos sentimentos, inda pequeno filhote

D'alma humana, com a ébria intensão de ser enterrada
De ser tradutora de toda dor, trauma, protesto
E com todas as forças, certamente eu contesto!
Na poesia, não é para ser fastigiosamente entrelaçado
Em um vulgarismo tenebroso ou em um consumo rápido

Pois é preciso todo o langor possível
Afim de soletrar todos os vícios, todos os sentidos
D'alma humana, incompreendida, irremediável
Sem falar em citar todos os males acometidos

Cantar todas as canções, voar para Celene
Segurar as mãos daqueles que precisam
Decodificar a transcedência dos que se suicidam
Trazer o indizível ou ao menos tentar, de modo perene

Sem falar da liberdade omissa
Fugidia e esquia, que escorre entre os nossos dedos
Para prosseguir em grande missa

Em torno da nossa aclamada esperança
A mesma esperança que quando a lua alcança
Se torna o maior e mais sublime desespero!

By: Bruno

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A um fantasma


I

Eu jogo os olhos em vossas deformidades
Até o meu tato desaparecer com uma gota de fogo
Derramais o coração como vos rogo
Escutai a infâmia sintética da culpabilidade:

Sob os arvoredos que evaporam
Lapidam-se grandes tetos preciosos
Enquanto os desertos coram
Sob os olhos dos carpinteiros enganosos

A flama doce da minha loucura
Dissolvendo num raio as lembranças
De ter quando pequeno todas as vontades,
Todas as ambições, toda a infante bravura

Mancha agora o céu levemente de vermelho
Enquanto escuto com os olhos queimados,
Como pequenas folhas que reluzem as noites açoitadas
Pelas chuvas que agora refletem como um espelho

Esta merencória cançoneta aromatizada
Com a deliciosa obscuridade da harmonia
Harmonia esta, que nunca se pode obter de dia
Pois somente nos segundos mais sonolentos,
No mundo onírico, pode ser encontrada.

II

Pobre vulto que só tem a solidão
Vai e dize aos mortos que eu penso neles
Meus versos são para os amaldiçoados, aqueles
Que só podem se envolver com a própria recordação

Vai e dize que as folhas balançam insensatas
Vai e queima essa alma fazendo assim
Uma nova cor de nuvens, que enfim
Fariam tuas lembranças ganhar os céus,
Como a pequena fragata.

Mas teu paradigma implementado
É a profunda atração do abismo

Teu mal que te afogou com brilhantismo
Espírito que nem lembra porquê foi castigado!

By: Bruno

domingo, 15 de janeiro de 2012

Noite de loucura

Deito-me no chão, coluna ereta, joelhos arqueando as pernas como normalmente. Afagando a figura imponente do móvel, vista tão de baixo como uma formiga vê o passarinho a pegá-la com o bico, embriago-me, desta visão de insignificância e morte. Observando doentemente o amarelo da lâmpada, reparo que estou perto da desistência. Eu sou escravo do batismo que não completei. Tentado a destruir toda moralidade, com qualquer coisa que abrevie a vida. Faço pouco em lamentar as dores do mundo enquanto as minhas próprias, aumentam a agonia que me levam aos vermes que me devoram os princípios. O meu sono só é perfeito no ninho infernal das chamas azuis. E então resolvo colocar-me neste par de roupas que, lá fora, me prendem no mundo de telas dos humanos, prosseguir, ver em cada rosto a essência do que eu não tenho, ver ao trotar dos lentos passos o repuxo dos sentimentos que me desprezariam se eu permitisse. Noto que no pousar de cada palavra, no mexer de cada perna, não há sinal aparente de loucura, ou de apenas um sonho. O terror vinha, o normal vinha também. Sinto, neste arco-íris arredio, a sensação da modernidade, sinto também, como se eu fosse uma mancha cinza no colorido deste arrebol.

Por mais que eu invente o alfabeto do vasto vazio, não há cor acessível para determinar que haja um verbo poético, para cada desconsolo que há nesta dor de acordar cansado, sonolento, desanimado. É de fato uma alucinação bem simples, acordar sem vontade de ver qualquer luz, especialmente a do sol, aquele langoroso retardamento que inicia uma vontade intrépida de ver as pessoas, ver o movimento e se agradar com a vida pouco rítmica das pessoas que longe dos pássaros, das árvores, não conseguem se acostumar com a modernidade, precisando ser ajudadas para apertar um patético botão que as deveria ajudar infinitamente.

Por isso eu sinto sede. Sede da minha pequena consolação. O mais próximo passo entre a tímida felicidade que me invade o corpo afogando esta solidão, embora me deixando mais sozinho do que um terreiro queimado para plantio. O ardente general que em seu avião me bombardeia com explosões de sensações que certamente contrariam o tédio descomunal de um cotidiano de dormir e comer. A fraqueza do cérebro não vai interromper esta fatalidade da alegria, que um dia há de acontecer...

By: Bruno; Delírio

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Sonho


O sonho é como um segundo coração, tão profundo
Ouve-se sempre a sua voz, tão surda, enquanto adormecidos
Nos revelando puros infantes aquecidos
Nos cobertores ondulantes do imaginário mais fecundo
Alimentando intensamente por toda vida o nosso ser
Com suas pulsações imitando nosso primeiro coração a bater
Ele bate também, todo misterioso, quando estamos acordados
Sempre temos por ele nossas euforias arremedadas
E quando recordamos de algo querido, ele bate também

Quando se sofre ele bate, quando se ama ele bate...
É a continuidade da nossa vida
Mas quando a gente tenta alcançá-lo cru com as mãos
Fonte de todas as cadências ou alegrias
Do seu eflúvio, é inútil resistir ao mundo de ilusão
Onde todas as felicidades de quem se esquece da vida são alegorias
Eles escapam entre os dedos, escorregadios, voam
Uns poucos aprenderam como alçançar estas luzes que ressoam
Tão cheias de alma...

By: Bruno

sábado, 7 de janeiro de 2012

Mais olhos azuis


Eis que a volúpia me domina novamente
Com olhos mais azuis que o céu bonançoso
Escorrendo por garganta adentro, completamente
O beijo opaco e langoroso

Das piscadelas initerruptas das pálpebras
Que remoem o meu eterno martírio
Apodrecendo em ebriedade os lírios
Sempre florecendo antes das vértebras

Contorcendo-se ao vento sublime
Muito mais do que ossos e flores
Olhos, o meu querido ópio, o meu vício
Os oceanos desejosos de todo precipício
Clamando neles a morte e os condores
E desde então passei de virtude ao crime

Quando meu riso pirado e despótico
Muito bem admitido neste império de loucura
És também teu artifício de diabrura
Tens mesmo de mexer com cabeça tão neurótica?

E como desce das árvores a líquida resina
O amor é a coisa mais pagã que me alucina
Volvendo a face rosada e ébria de poeta
Com o corpo deitado junto a esta coluna inquieta

Procuro incessante, nestas respirações mudas
Tal sonho de quando acordo sozinho e doente
Saindo das tuas pálpebras como dois poentes
Minhas movediças areias azuis desnudas

Estes olhos que sempre hão de me alucinar
Por mais que eu definhe
Ainda são umas benesses a me iluminar!

By: Bruno


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Os olhos que leem

Atenciosamente lendo algo que não consegui identificar, delicados olhos escondidos formaram aos poucos uma incógnita em minha alma. Um par de lentes escuras e uma gentil voz que cedeu o lugar me foram certamente um tanto afáveis. Na primeira oportunidade, sentou-se de novo e suas pequenas mãos que remexiam no livro eram seguidas por braços pelos quais apenas um era banhado por uma tatuagem que o rodeava todo, dotando-o de uma monocromática que enchia meus olhos. Rapidamente considerei esta mais uma de poucas visões realmente agradáveis desta monotonia e tédio. Preciso urgentemente refiná-la até se tornar um efêmero retrato e assim arquivá-lo na memória. Do contrário apenas se tornaria mais um abrasivo lamurio, desses que nos corrompem e nos partem em saudade, nos obrigando a sermos eternos pedintes destas e daquelas presenças que somem em multidões, jamais retornando para o alcance dos nossos sonhos...

By: Bruno: Visões do metrô.

A cabeleira

O balouçar impaciente daquela coxa, refletido em meus olhos era peculiar. Eu poria o mundo naquela cabeleira encaracolada, o meu mundo. Todas as voluptuosas projeções oníricas estão ali. Bem como minhas mãos e palavras, portanto é preciso manejar esta visão com cuidado para que não borre e estrague a jovialidade contida ali. Porque a única jovialidade que o tempo não consegue cravar suas garras e espetos é a que se encontra retida nas memórias e nos sonhos. E é curioso como as visões são perfeitamente apagáveis, na medida em que nos apegamos a elas, mais tememos que se percam, maior é o risco de deformá-las, confirmando a ideia de que nada é seguro neste mundo. Todas as projeções tem a ideia de perda.

...Será que ainda resta algo que não caminha para o esquecimento?

By: Bruno: Visões do metrô

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A máquina de conveniência

O metal é triste e eu já conheço suas opções todas
Tenho um pequeno carinho por elas, embora tenha visto bem poucas
Nem uma bela noite de sono ausente faz da lâmpada sozinha
Companheira do meu coração que por estas tecnologias se aninha
Por rastros vários, talvez de maus presságios
As pessoas aguardam serem levadas, depois de terem pago seus pedágios

O metal é triste, cheio de um tédio imenso
Possuindo para si os momentos e calmarias de todas as lentas horas
Para ela, é únicamente resguardada o melhor da solidão intensa
Todavia, ela jamais existiu nos tempos ébrios de outrora

Pois bem, deixemos de lado as cerejas, lixias e maçãs
Trazendo para si o aço incolor e frio, que não entende a beleza das romãs
Ensinemos às crianças o desprezo embalador
Da paz das relvas em flor,
Pois as noites se resumem sem encanto
Em luzes que intensificam a ânsia dos corações em espanto

Os ofuscantes olhos do metrô remetem, que nós, sempre de lado a lado,
Apenas de passagem estamos. Enquanto o metal triste perdurará abandonado.

By: Bruno