Em larga mão escondem-se os precipícios
Onde jaz nenhuma luz, perdão e martírios
Ó Príncipe Exilado das moléstias mais sutis
As terras soberanas da esperança
Guarde para as loucuras vis
Anjos fartos de terem asas, servos fortes com olhos cegos
Beba do sangue e coma do corpo que já está adormecido
Ele não sonhará com você, nem morrera por sua alma
Saiba que o valor de sua sombra é o mesmo da escuridão
Você descansará como qualquer outro ser
Talvez suba em uma escada que brilhe inocentemente
E eu desça o abismo de lágrimas, dor e solidão
Mas saiba que se eu cair, cairei com o maior dos sorrisos
Porque de todas as mentiras que foram contadas, eu fui a mais sincera que respirou
Pai adotivo dos que buscam Tua ira mais sombria
Teu rancor cintila no âmago dos que amam a guerra e a destruição
Faz da morte a árvore da ciência
E na devassidão a inglória das almas podres
E em tais ramagens faça Teu reino imortal
Devorando cada centímetro de orgulho destes corações
Apenas servos vejo dos que dizem ser Teus filhos
Alimentados com medo disfarçado de respeito
Mas eles ainda têm fome de mundo e vida
Essas almas querem viver podres para nunca morrerem ricas
Porque amando Tuas leis, elas se salvarão do preço do pecado
No fundo todos sabemos, nada amam a não ser elas mesmas
Faz da Terra uma grande furna obscura
Enquanto assiste calmamente da Tua morada
Deturpando nossos próprios Édens imaginários
Reservando o Teu jardim suspenso a Teu próprio egoísmo infame
E não vê Teus Serafins sucumbindo ao desejo
Preocupado apenas em condenar este planeta
Condecorado com maldições e infortúnios
E por fim tem sempre alguém a ser culpado
Culpe o pobre portador da luz
O alado dos lugares mais profundos
Porque tem sempre alguém a ser culpado
Do Teu Reino nenhuma coroa pode cair
Rei intocado pelos gritos de socorro
Não quero Tua ajuda se da minha alma quiser ser dono
Deus que vive acima de mim, desça e olhe em meus olhos
Curva-Te como um dia quis dos meus joelhos
Porque de nossa existência nada há de muito diferente
Nascemos do homem e ao homem retornaremos
Como o pó que das estrelas fulgura
Não haverá magia entre nós
Bem como não há perfeição
Então não julgues atos de liberdade
Como se fôssemos crianças cruéis
Pois esta crueldade vem de ti
De Tuas mãos recebi apenas acusações
Acompanhadas pelos gritos de Teus pequenos deuses
Não me perdoe, não cometi nada de errado
Somente dias perdidos tentando Te ver nos corações mentirosos
A cada ovelha perdida, um pedaço do céu a mais
Eu estou perdido e não quero que Tu me salves
Venda minhas nuvens aos devoradores famingerados
Deles que vem o azul do alto
Eu quero apenas permanecer inteiro dentro da minha decadência.
Por: Bruno Borin Boccia e Maykel M. De Paiva
Breve comentário: Mais uma vez reunimo-nos para mais um poema, salientando que evocando o espírito da literatura ultrarromântica e maldita, evidenciamos a eloquência e ausência de pudores dos nossos mestres.