O coração verde dos pássaros me folheia
sentimentos inéditos que me invadem
E a palavra que nas moscas se repoltreia
Em forma de zumbido, me são filmagens
Tudo que é rejeitado pela razão
Chega ao poema, eu incluso
Pois o alarido de coisas em rejeição
Perfumam de jasmim o cantinho recluso
Ao qual pertenço, escondido por paredes
De sílabas, que me são paisagens
Como as frutas são pastagens
Para as moscas que têm tanta sede!
Sou assim, enfio pregos enferrujados
Nos sonetos, oxidando os substantivos,
Fico olhando o fio de água da calçada
E percebo ali um tribunal sem alçada
De bactérias e protozoários embebidos em sabão
E na boca da vida, a palavra apodrecendo,
Desgostosa de ir na linguagem se revivendo,
Vestindo o terno emprumado do tempo em progressão
Que me mostra que ser chão depende da prática
De ser sozinho, atacado por árvores alienadas
No mesmo grau das pedras, vizinhas desejadas
Pelos musgos que as povoam da moda fleumática
Do desterro que há nos capinzais,
Onde os vaga-lumes acendem estrelas
E a lua secava as aquarelas
Que a vida forma, com lutas corporais
Enquanto um rio escorre de nós
Em formato de fala e de cidade
Suja e amassada da hora veloz
Que passa com a maior frugalidade
E eu, que negocio com o vocábulo
Sua próxima aparição
Funciono só com o meu vernáculo
No altar que acho nas flores em botão.
Eu sou quando e depois
Da palavra manifesta
Sou, pois
Uma impressão de seresta.
By: Bruno
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