quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Chamamento ao poema

Nos lábios do mundo
Silêncio e grito
Têm igual sentido
E mudam tudo num segundo

Nas linhas de um caderno
A luz e a escuridão
Se entrecruzam sem precisão
E traduzem o que será eterno

Os ciclos entre a vida e a morte
Não são para nós lições,
Meras viagens com ou sem sorte
Roídas pelo vento, fustigadas visões

A palavra não registra nada
Além da nossa rápida passagem
Por essas longas paisagens
E agressivas enseadas

E os sons que enodoam a vida
Perpassam o poema
Alegorizando o floema

Das cores que bordam sem medida
Os sentimentos, segredos de todos os momentos
Sempre escondidos nos grandes temas.

By: Bruno

domingo, 27 de outubro de 2013

Os conquistadores

Mais concretas que as asas dos anjos
As hélices percorrem os céus
Retirando das horas os véus,
Inúmeros como seres andrajos.

E como se sentissem que o tempo foi embora,
Sem a pretença vontade de substituir
As estrelas, que já não vão mais nos acudir
O céu claro os acolhe e com eles corrobora

Com sede de horizonte ou de lucro
Voamos como besouros por entre as nuvens mudas
Metalizados em nossos potentosos invólucros

E os que ficam para trás, são hipnotizados
Nunca com as borboletas e seu voo surdo 
Mas com os excelsos edifícios helicopterizados.

By: Bruno

Rimas de saudade imensa de ti

Trago o coração à flor da boca,
Pulsações despidas de saudade. 
O brilho das memórias é pura maldade 
Atracando-me a esta doce e fatal doca.

Melhor que o precipício dos meus sonhos
É a cidade que me grita a tua ausência
Pois o pranto agora não tem a dolência
Do equívoco, como acordes bisonhos

De uma guitarra desafinada 
Contida em uma garrafa de desilusão
Inarticulável, como a noite abandonada
Em um oceano em mansidão.

Meu único exílio é essa saudade,
mesa maciça que me separa
E totalmente me desprepara
À falta total da tua claridade

Só sei o que deveras sinto.
O trovão que, altivo brame, 
A chuva que, baixinho geme,
E a saudade que me percorre como absinto

Minha vida está incompleta,
Rosa sem espinhos,
Falta-me o fino linho
Do teu toque dileto

Para que eu deixe de ser rumor
Solto na inexatidão do mundo.
Para que eu me torne o verso profundo
Que sempre quis declamar com o maior clamor! 

By: Bruno 

À vivência

Eu sou o que sou, quando alvo
Dos raios refratados dos carros
Não passo de uma impressão esfíngica
Sem as imprecações de uma beca ou túnica

E, bombardeado pelas montras comerciais,
Pelo dia irradial, sigo
Sem proclamar meus profusos ais,
Claro, irrompem-se sonhos como tenros figos

E, minha sombra, lembrete do distraído
Escuro que permeia cativo, 
Pelo urbano bramido

Me remete ao que aprendi, conduzido
Sem cartilha, ao que é decisivo
E o que de momento, é difusivo.

By: Bruno

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Sobre o eterno aprendizado



Somente os professores
Conseguem ver, em nossas dores
O eterno glossário
Do nosso aprendizado.

Dobrada é a aventura
Do ensinamento, porém 
Conquistada é a sina de além
Quando folheada com ternura,
E capazes ficamos, da moldura

Da existência preencher
Com o labor mútuo
Do professor e do aluno,

Posto que não é um sofrer
Viver com gosto, o duplo
Significado deste rumo!

By: Bruno

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Distância

Longe de ti
Sinto muito mais frio.
A cidade é muito mais vazia
Eu, muito menos povoado
Mas ainda sim, peregrinado.
Pelo amor que sinto,
Que transita entre os ventrículos.

By: Bruno

O dia mais longo

Após uma tarde de andanças
Chegamos ao terminal tietê
Tu irias partir de qualquer modo
Mas eu, ficando nesta terra,
Como recuperar a alegria
Dentre tantas chegadas e partidas
Dos metrôs?

By: Bruno

Exposição à linguagem


O coração verde dos pássaros me folheia 
sentimentos inéditos que me invadem
E a palavra que nas moscas se repoltreia
Em forma de zumbido, me são filmagens 

Tudo que é rejeitado pela razão
Chega ao poema, eu incluso
Pois o alarido de coisas em rejeição
Perfumam de jasmim o cantinho recluso

Ao qual pertenço, escondido por paredes
De sílabas, que me são paisagens
Como as frutas são pastagens 
Para as moscas que têm tanta sede!

Sou assim, enfio pregos enferrujados
Nos sonetos, oxidando os substantivos,
Fico olhando o fio de água da calçada
E percebo ali um tribunal sem alçada

De bactérias e protozoários embebidos em sabão
E na boca da vida, a palavra apodrecendo,
Desgostosa de ir na linguagem se revivendo,
Vestindo o terno emprumado do tempo em progressão

Que me mostra que ser chão depende da prática
De ser sozinho, atacado por árvores alienadas
No mesmo grau das pedras, vizinhas desejadas
Pelos musgos que as povoam da moda fleumática 

Do desterro que há nos capinzais,
Onde os vaga-lumes acendem estrelas 
E a lua secava as aquarelas 
Que a vida forma, com lutas corporais

Enquanto um rio escorre de nós
Em formato de fala e de cidade
Suja e amassada da hora veloz
Que passa com a maior frugalidade

E eu, que negocio com o vocábulo
Sua próxima aparição
Funciono só com o meu vernáculo
No altar que acho nas flores em botão.

Eu sou quando e depois
Da palavra manifesta
Sou, pois
Uma impressão de seresta.

By: Bruno


domingo, 6 de outubro de 2013

Estrelas...
Sei que nunca serão minhas
Mesmo assim...
Insisto em cozinhar um ensopado
Com todas elas.
Salpicando-as junto aos astros que fulgem
Na panela.
Como se esperasse a fome do céu
Saciar.

By: Bruno

Balada do céu nublado

Apoio a cabeça no mesmo céu nublado
Em que dois pardais, trocando bicadas
Percorrem seu caminho.
Vida pacata?
Não é possível em meio ao concreto 
E o vidro pinicado pelas gotas da chuva.
Com o relógio a ponto 
E o céu sempre a pino,
O que há de fazer senão escrever?
Os mesmos pardais que vi
Poisam agora no poste do semáforo,
Será sinal de trégua?

By: Bruno

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O choro da estrela...

A chuva pinga orvalhada dos caibros e das calhas
Como acordes de infinitude que bramem sons de mogno
De cítaras longínquas, enquanto o homem, daninho
Segue caricaturando as falhas de viver sem sentir
O sabor de uma estrela que chora sobre todos nós.

By: Bruno
Eu te amo como amo a abóbada noturna
Tu que, minha vida, canção taciturna
Transformaste-a em lívida ventura
Com tua inesquecível e suave brandura

Eu, que sempre existi incompleto
Nos acasos cotidianos, fluindo,
Como um rio que ia se esvaindo
Nos intemperismos evaporantes do dialeto,

Acendia astros imaginários e neles me iludia
Entretendo assim o grito sem sombra do dia
Conquanto as noites, caíam irretratáveis
Ao véu gelado dos meus ventrículos irremediáveis.

Agora, mergulhando na sutil espessura da tua sensibilidade
Provando o real sabor do amor ao qual eu desconhecia
E, livre das janelas que me alvoreciam
Posso pensar, não em subir os degraus planetários da eternidade

E sim, em subir as serras dos dias, sem o desfeito
Das horas que pertencem ao tempo,
Apenas levando o doce alento
Do amor que depositaste em meu peito.

By: Bruno