quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Estrição



Meu coração está borrado
Desaprendeu a ler a  cor do céu,
Perdido no sintoma tresloucado:
Um Acorde fazendo escarcéu!

Eu não sei ler esta partitura!
Maldita hora de não saber
A configuração da agrura:
Essas correntes a me tolher.

Posso apodrecer agora mesmo,
Sem nem acontecer nada!
A lua assistirá esse pesar a esmo,
Como se ouvisse uma tocatta

Não posso nem consigo dormir
Para não querer trocar o real
Pelos meus sonhos de não existir:
Preso entre meu ideal e o ritual,

Que transfigura tudo que aprendi
Onde não sobra um valor sequer
Não sei dizer adeus em guarani
A tudo que gostaria de defender 

Mal deste mundo que tudo quebra.
Muda, também germina a podridão;
Escurecido está o jardim e a gleba
E eu não quero participar desta infecção!

Onde lograremos como Lídia e Caeiro,
Se o céu e a terra apagam-se da vista,
Tornam-se fantasmas num formigueiro;
Quando já se tem como perdida a conquista?

Onde se compra a máscara dos dias gastos?
Em qual lugar o vento leva os mil cansaços?
Quero descansar meus secos caules lassos
Na nostalgia das ondas e dos calmos pastos...

Bruno Borin Boccia

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Expectativa


Venha, te receberei como as árvores
Recebem a querida primavera!
Trocarei as lágrimas por doces olores
E novamente nadaremos juntos
Como um casal de patos-mandarins
Pelos jovens rios de nossa vida.

À sombra da Pitangueira florida
Conduzidos pelo veraneio prematuro
Escreveremos novas memórias.

Bruno Borin

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Afeição


Por querer ver sempre teu olhar reluzente
Quero com vinhos e nenúfares te alimentar
Abdico do meu fado para mais refulgente
Perfurmar teu caminho e, tua sede acalentar

Com piedoso afeto, suavizarei os caminhos
Para que vivas sem os tiranos do costume,
Porque tu és meu coração, és o meu nume
Então faço de minha vida, teu lenitivo ninho!

Cevando a saudade que sopeia meu coração
Coagulo estes nós infaustos em enamoradas
Láureas sobre o teu ser, em total devoção!

Tal como Camões cantava, quero te cantar
Na incerteza de trazer-te algum suave lume
Mas na esperança de teus males amainar.

Bruno Borin Boccia

quinta-feira, 7 de março de 2019


De tintas rubras do instante 
É que se tinge a vida. 
                          De embriaguez
Samsara

Sambar a vida esvaecida
Esquecendo texto e sabença

Lamber a vida... e a escrita

Entre a vigília e o encanto
Fica o sonho, 
esse portador da carne da alma
Perseguindo o intenso voo

A ferida é samsara
Prateada de guizos
E queixume antigo


Cor de dor e uma estrada vazia
Estertor de apatia
A eloquência do nada sempre domina

Samsara...

Somos orvalhos em um deserto

Fundura e nervo

Samsara...

Bruno Borin