quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Voto


Sabia, meu amor querido
Que a razão de amar-te
É de apenas amor sentir?

Sabia, um coração florido
Existe por bem querer-te;
Pulsa por seu singelo existir?

Tudo que tenho aprendido,
Aprendi em função de ter-te
Guiando a vida por teu luzir!

Tudo que tenho será dividido:
Não tem para quê estimar-te
E em brevidade, ver-te partir!

Sei bem que a tua preocupação
Não é o amor; mas veja, amar-te
Frutificou! Com o teu permitir!

Sob as cerejeiras em floração
Nossos mais profundos desejos 
Cresceram em bonita constelação!

Bruno Borin 

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Horror



Que dor maior, pensar numa terra
Que não o tenha como habitante!
Meu coração haveria, no instante,
De expirar, neste futuro dissonante

De meu visceral desejo: junto viver!
Povoado dos gestos de sonho de amor,
Beijos secretos d'um veludo acolhedor;
Jamais saberia por onde me refazer!

Sem o misterioso livro do teu ser vivo
Esboroariam as cores; em rumo perdido;
A poesia não teria a mesma flama ardida!

Sem tua mística aurora mais-que-nascente, 
Eu iria dilacerar todas as minhas carnes
E só enxergaria o anelo do sol poente...

Bruno Borin

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Aluado


In an obscure night
Fevered with love's anxiety
(O hapless, happy plight!)
I went, none seeing me
Forth from my house, where all things quiet be

São João da Cruz - "Noite Escura da alma"

Eis meu último cálice de vinho
Não é muito para a diluição, 
Das velhas dores da invenção
Escritas no estimado Pergaminho...

O que dizer? É tão vã e esparsa 
Essa verdade que nos predomina;
De gole em gole quase nem rima,
Como um coração em desgraça!

Fechando as pálpebras languentes
Procuro reunir minhas metafísicas
E no verso escandir vários segredos!

E em ramagens tristes e fatiloquentes
Descubro nas minhas ilusões oníricas:
Escrevo tateando o mais puro nigredo!

Bruno Borin