A vida é variavel assim como o Euripo.
Apollinaire
I
Cruzando a ponte febril de nuvens
Me espargi como um rio no oceano
E como lembranças a flutuar, surge
A vida, em cartas de um baralho decano
Nas ruas sem número do meu epicentro
O sol dos dias brilha dilacerado, tentando
As cavalarias alcoolicas que, trotando
A esmo, fiscalizam os proclamados remendos
Em vagas faces, de sombras vivazes compondo
O cipreste oloroso e destituido de sentido;
Um monumento profano é soerguido
No lugar de uma proscita ruína sem rosto!
Enquanto dançáveis melodias variavam
Ditando os passos a serem dados
Esqueci dos comprados alambrados
Em um padecer que os céus me alijavam...
II
Não sei o que é mais fugaz,
Se é a vida a nos entoar
- A final canção
Ou o coração a ditar
- A feroz paixão!
Em mãos de outono, se perdem
Os signos colhidos do junco
As queixas de verão cedem
Ao corado sumo
E acordes bailam nos yeah yeahs da vida.
Morrem muitos cantos, muitas melodias
As portas batem sorrindo terrivelmente
O amor dura um lapso de segundo
O tempo de uma visão subliminar
Ser esquecida, mas uma eternidade
Para ser posto de lado como uma memória
Vazia.
Feias são as beatitudes, senão compostas
De sonhos honestos e romances perdidos
Do sangue dos deuses que se compõem
As artes que ferem a alma dos astros
E revelam a mentira das estrelas.
Eu me eternizarei sob o espinhal em flores
Recuso a tenra grama e os campos lilases
Do verbo quero o ritmo da existência
a bradar cem anos de consolo para uma dor
Que não se alcança.
III
Meu revelar é também um esconder.
Bruno Borin
Precisando de favos de azul
Vestido de incompletudes
E sentindo que perdi my soul
Reconheço essa tal solitude
No desamparado castigo
Nas próprias condolências
Acho as profundas essências
Do meu antigo postigo!
Distanciando do matiz verde
Segmentado em res urbana
Componho minha verve
Do intransponível engano;
Desejando o purpúreo lupanar
Das ideias fátuas e merencórias;
Proclamei sem dolo um pressagiar
Instaurando o ritmo destas rapsódias
Nos verbos de ação mais fantasiosa
Para mendigar cores que nunca tive
E não absconsar na mesmice,
Perdendo minha mocidade preciosa...
Bruno Borin