À Baudelaire
"Flectere si nequeo superos, Acheronta Movebo"
- Virgílio
Preso na noite de um verão gélido
Sonho, numa onda calma e negra
A quadra de uma soberania hedra
A galgar os céus num voar tépido:
Ansiando fazer sentidos de grandeza
Atrapado na densa, espargíria sensação
Baudelaire! Te penso em sua rudeza
A poesia é o único abrigo da invenção!
Mas não qualquer criação! O etéreo Eu!
Aquele de paletó ideal, A quem abraça
Somente o grande inverno do plebeu
Que cultiva a dor em campo de lavra!
Porque na folhagem incerta do destino
Floriu! Não um lugar no de todos, Mundo.
Onde o corpo do beijo dorme, bem fundo:
Fonte do vinho mais velho, bordô menino!
Esotérico lugar, de difícil entendimento,
E o pior! Sem óbolos para o barqueiro!
A estética é o único presente rudimento,
Das auroras roubamos cores pr'o tinteiro!
Fiz deste tinteiro meu estimado ébrio barco
Porque não quero do real, os parcos cobres
Estes só salgam os coágulos de meus odres;
Perdido em brumas violentas, reteso o arco...
Mirando nos lamentos, mataria mil sóis
Para agarrar apenas uma noite eterna!
Eu teria gostado de acordar nos arbóis
De uma nova percepção, e ser primavera
Eu teria gostado de despertar um povo...
De tecer hipocampos sem algum pranto
Mas prossigo num dançar pálido, covo...
Ainda faço do torpor o meu querido antro.
Bruno Borin