Na poesia eu sabia fazer tantas coisas
Afinar chuvas, amolar o tempo
Despudorar os olhares e até voar sem asa;
Trocar os inícios pelos fins
E principalmente mexer,
fazer diabruras com os significados todos...
Mas diante de ti, de tuas mãos quentes
Que tocam meu avesso, nada sei,
Nada possuo dos feitiços da linguagem;
O toque é mestre de um reino sempre novo,
A chuva é sempre saudade do corpo que me visita.
Desaprendi a dizer adeus a um sol que não me recebia
O espero toda vez que vê-lo significa não ser só
Enquanto a lua, esta se tornou vitalícia;
Sinal de romance e fruto de um sonho vivido;
As luzes da noite se tonaram páginas de um amanhã contigo...
Sem saber que sei, te habito na presença do beijo
Sabendo que sei, te habito no coágulo das horas
Em que espero ser presença de novo
Para, no endereço de seus gestos, ser vivo e livre
Como a lágrima que cai do rosto de quem ama,
Como um crepúsculo que aguarda toda a tarde para
simplesmente acontecer.
Bruno Borin
Foto: Juliana Sammarco