sábado, 26 de março de 2016

Outono...


Chegou o outono
Nada diferente, mesmo,
Se Gaia vestisse um quimono.

Bruno Borin

Chegou o Outono: As máscaras caem
Como as folhas mortas que ao secar
Do cíclico ardil da criação revelassem:
A vida nunca soube se libertar!

Quanto a mais a tediosa, a humana,
Cheia de grilhões, seja nas fantasias;
Nas instituições, tomadas de pilhérias
Está condenada ao lastimoso fadar!

Sem apreciar sequer o poente fatigado
Com o lucro fixado em mente 
A tecer preces de talento ofuscado

Perder-se-á tudo, não só as cores, 
Nas vidas que se passam; só sentem
Aquilo que os marcam e deixam dores!

Bruno Borin

domingo, 13 de março de 2016

Delíquio



- Alma em cilício e enxofre, pasma,
Brandindo a missa atroz em névoa fria
Das chagas cardíacas em romaria.
Enquanto meu epitélio em xantelasma;
Urdia pungido da realidade medicinal,
Dos exames e empirismos modernos,
Tão perto de escrever nos Celestes Cadernos
A epigênese de mais uma histeria ocasional;

Quando reverberava sobre meu olhar
Perfumes boreais que iam apagando,
Tudo quanto era preenchido pelo vozear;
Cujas opressões persistiam estrangulando
A vontade esquálida pela invadida carne;
Tão belo foi este outono mentiroso, quanto
Foi necessário ser erguido da risonha situação,
Enquanto obtusa se fez a  cisma em manto
De desatino, resoluto a retirar de mim
Aquilo que se achava sobre meu eu, sem fim.

Bruno Borin

quarta-feira, 9 de março de 2016

Esperança



Queria ter memórias como as tem
Os antigos romanceiros; e sob beijos,
Tecer versos de amores sem o desdém 
De nós modernos, sobre o ser alheio.

Num viver tomado de febril loucura
Ousar amar com total liberdade
E olvidar a falta de sobriedade
Em versos sem falsa candura.

Não canso, a procurar nos abraços;
Numa rosa sem espinhos doloridos,
O ressoar do eco destes meus passos.

Mas onde estará tal doce quimera,
A bradar muitas vidas coloridas
E não me deixar mais no quem-me-dera?

Bruno Borin