domingo, 30 de dezembro de 2012
Paisagem penhense
Céu nublado, Céu chuvoso
Paisagem vasta, instável
Casas até onde a vista alcança
Vento sem brilho dança
Sem as gotas da chuva de agora pouco
Mas elas logo retornam, abrasantes
Recortam a paisagem
Os relevos cinzas
Por vezes multicolores
Mas nada comparados aos Açores
Se vão na memória,
Voltam na revisita
Permeando um mundo limitado
Mal acabado
Que sempre muda
Nunca se cala
Insatisfação?
Não, incoerência mesmo.
By: Bruno
domingo, 23 de dezembro de 2012
À Lêdo Ivo
Hoje o corvo agita suas asas, se fartando nos meus umbrais
Hoje espreitam meus tecidos vulneráveis, os terríveis chacais
Enquanto minha tosse sufocada ecoa pela boca tapada
Alagoas se assemelha hoje, à uma capela rachada
Para mim, uma cena fatal, gritos vagos e surdos
Mas a gradativa saída da luz dos olhos
Denota um desespero nem leve nem agudo
Apenas um desespero bem curto.
O Executor nunca me deixará falar
Do meu desejo de ter-lhe apertado as mãos
Me resta relembrar tua obra, feita com tanta dedicação!
Me resta ouvir tuas histórias através de teus livros
E não de tua voz como eu sonhava, que delírio!
Me resta olhar para um céu que não será mais tão níveo...
Fico eu, herdeiro ilegítimo do teu legado
E do teu espírito, aliado
Afundado ainda mais nas palavras
Enquanto delas - Tu estas livre!
By: Bruno
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Vanitatem I
Olhai por última vez as terras soberanas
Dotando-se de um perfume que plana
Percebe? De mofo e decomposição a vida se refaz!
As paisagens formosas ficarão na vã memória
Assim como os afãs brumosos se mancharão
Da vulgar necessidade de perpetuação
De um destino que se repete merencório!
Então abra teu vestido sacerdotal
Como o monge abre as portas dos templos
Porquê hão de ser diferentes os tempos!
Tempos que tornarão teu culto tão execrado,
Minha querida irmã de feminilidade tão apertada
Quanto o teu pranto calado!
By: Bruno
domingo, 2 de dezembro de 2012
A serpente emplumada
I
Quando Quetzalcóatl passou pelo céu do meu delírio
Com aquelas asas de cobra imortal
Me pungindo com uma surpresa fatal
Eu pude sentir no brilho litargírio
Daquelas plumas metafísicas, transbordar uma paz líquida
Muito mais pura do que aquelas presas nas garrafas
Contudo muito mais bruta e incorpórea do que as folhas da Anafa
Fazendo meu sangue circular de forma mais pálida e lânguida!
Que estranha danação, daquela criatura
Condenada a mergulhar no céu e voar no mar
Desencarnada da vã matéria e do poluto ar
Encantando a mágica filosofia de um povo mesoamericano
Com uma emplumada ossatura, ah como deve ser uma grande tristura!
II
Ó serpente emplumada, que queres das terras por onde passas,
Orvalhando a fresca fertilidade nas folhas secas da relva
Ascendendo os alimentos físicos dos bichos da selva,
E os alimentos espirituais dos povos de eras passadas?
Um coração humano ainda quente te faz alimentado para prosseguir tua eterna viagem?
Teu corpo, cuja extensão longuiforme ressona o canto da natureza inteira
Consegue distinguir o louvor no templo escondido na densa folhagem?
Porquê partes tão apressada, ó Serpente trajada tão à tua maneira?
Bom, vá, vá! O céu anseia teus sussurros com singulares ideias
Tu não pertences ao céu do meu delírio, nem ao paraíso perdido
Tu pertences à eterna peregrinação, bem como ela a tu, meu fragmento contorcido,
Da realidade dos tempos pagãos, que me acende as pequenas candeias
Do advento da inspiração!
III
Ó doce sibilo que aquece o ventre da humanidade
Instrumento de esperança e prosperidade
Ó abrupto bater de asas brancas que ceifam
Os carmesinados virginais que vosso altar forram
Mal desponta o vento, e o breve alento
É o indício da nova partida, retorno ao ciclo ourobórico
Correspondido nas terras ameríndias o almejado milagre biológico
É hora de debruçar o corpo sobre o etéreo firmamento
Vertendo-se atemporal, indolentemente
Unindo-se a um panteão mágico, serpentinamente
Vai, parte de uma vez, não retornes ao céu do meu devaneio
Nâo vês, que como muitos, à tua mitologia eu sou alheio?
IV
Mas estes tempos belos e tristes bem que podiam se valer de teu oratório
Uma pena que ninguém mais compreende o rastro sombrio e inglório
De tua passagem, entremeando as nuvens em um movimento ondulatório
E então mova-te por cima de longínquas terras, campos santos e bosques pagãos
Passando por povos que se acham tão equidamente sãos
- Sem achar absolutamente nada, que constrição santa!
Retorna-te ao símbolo adorado do caduceu!
Enquanto eu repenso se te coloco ou não
No meu grimório tão infame e nebuloso
Quanto o teu passado ritualístico e glorioso!
By: Bruno
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